Emanuel Alencar – Compostagem de biorresíduos: uma revolução necessária

Os usos são múltiplos: desde abastecimento de frotas da própria coleta urbana ou injeção de gás no sistema gerador de eletricidade

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Desde que os humanos nos organizamos em cidades, a disposição dos resíduos tem sido um grande desafio civilizatório. Em seu essencial livro “Lixo, vanitas e morte: considerações de um observador de resíduos (2003)”, Emílio Maciel Eigenheer descortina a sempre complicada e dura relação de nossa espécie com o “inservível”. O assunto está, pois, prenhe de tabus, interdições e preconceitos – tudo intimamente conectado ao drama humano relativo à morte. Falar de resíduos constrange, inibe. Não queremos versar sobre a finitude. Mas há alguns caminhos que sugerem horizontes possíveis menos danosos ao ambiente e à coletividade. Prática bastante difundida em alguns países europeus – como Alemanha, Áustria, Itália – a recuperação dos biorresíduos (restos de podas de árvores e jardinagem ou de alimentos) precisa ser destravada no Brasil.

O conceito é a redução ao máximo da disposição final do lixo nosso do dia-a-dia em aterros sanitários (medida mais do que urgente quando o assunto é a sustentabilidade), aliada a um ganho de energia. Na Áustria, 40% de todos os resíduos voltam para a terra, em forma de adubo. Há 13 anos a Itália pisa no acelerador em processos de transformação de seus biorresíduos em fertilizantes, biogás e biometano. Portugal desde 2020 tem lei específica que obriga a coleta seletiva dos orgânicos pelos municípios. Os usos são múltiplos: desde abastecimento de frotas da própria coleta urbana ou injeção de gás no sistema gerador de eletricidade. O que seria desperdiçado – num processo gerador de gases do efeito estufa – passa a ser aproveitado. A tal circularidade, tão desejada. Golaço.

Talvez nossa sociedade ainda não esteja pronta para para fazer a separação dos resíduos orgânicos em casa, muito menos para a compostagem doméstica ou comunitária. Vivemos em clima tropical, e o acondicionamento de restos de comida em apartamentos pode enfrentar dificuldades diversas. Nas escolas, a educação ambiental ainda é peça de ficção, ou está muito distante do ideal. Entretanto, nada pode explicar os índices praticamente inexistentes de compostagem em todo o país, a não ser uma extrema letargia de empresas, governos e sociedades.

Metade da geração diária de lixo domiciliar na cidade do Rio (3,5 mil das 7 mil toneladas) é composta de biorresíduos. Na usina do Caju, a Comlurb pratica a compostagem há anos. O problema é que a quantidade é ainda irrisória (150 toneladas por mês, o que representa 0,14% da fração orgânica gerada – o patamar já foi mais alto). São saudáveis e incríveis as iniciativas como a das empresas Ciclo Orgânico e Casca, com assinaturas mensais para quem separar os biorresíudos em baldinhos. Mas apostar na compostagem como política pública é uma revolução necessária. Precisamos começar imediatamente.

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