Após anos de abandono, o histórico palácio da Ilha de Brocoió, localizada nos fundos da Baía de Guanabara, deve ganhar uma nova função. O espaço, conhecido por sua arquitetura diferenciada e por ter abrigado figuras ilustres da política e da antiga high society carioca, será restaurado e adaptado para sediar um centro de pesquisas vinculado ao processo de despoluição da baía.
A informação foi confirmada pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa), que já iniciou a fase de pesquisa de preços para contratar a instituição responsável pela restauração do casarão e pela implementação do novo centro. A iniciativa acompanha o projeto da concessionária Águas do Rio, que prevê reduzir em 90% a poluição das águas da Guanabara até 2033.
Construída na década de 1930, a mansão em estilo normando foi idealizada pelo empresário Octavio Guinle, membro de uma das famílias mais tradicionais e ricas do Rio e fundador do Copacabana Palace. O projeto foi do arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo idealizador do Copa e do Hotel Glória. O imóvel, tombado pelo Iphan desde 1965, se encontra em avançado estado de degradação. Fotos recentes mostram telhados com infiltrações, claraboias improvisadas com acrílico rachado, piscina vazia e jardins tomados pelo mato. O governo do estado afirma que há manutenção permanente no local, com ações de controle de pragas, vigilância diária e presença de jardineiros.
Em 1944, a ilha e o imóvel foram adquiridos pela prefeitura do então Distrito Federal, convertendo-se em patrimônio público. Posteriormente, passou para a administração do governo estadual.

Antiga residência de verão
Durante décadas, Brocoió alternou entre ser residência de verão de governadores e palco de festas privadas. Nos anos 80, Leonel Brizola usava a ilha tanto para reuniões de secretariado quanto para eventos sociais promovidos por sua filha. Em 2003, a então governadora Rosinha Garotinho chegou a se isolar por 45 dias no local durante a crise do “propinoduto”. Já foi inclusive projeto do ex-governador Sérgio Cabral restaurar a construção para convertê-la em ponto de visitação pública. Outras tentativas de dar novo uso à ilha também fracassaram — ideias como a criação de uma escola de hotelaria ou um campus da Uerj não saíram do papel.
Embora já tenha sido avaliada em R$ 45 milhões, a construção hoje não despertaria ofertas nem próximas disso. Especialistas do mercado imobiliário estimam que, em razão do abandono, seu valor real não passaria dos R$ 8 milhões. Durante os governos de Cabral e Pezão, o Estado chegou a colocar a ilha à venda por meio de leilões, sem sucesso.
Segundo a Águas do Rio, o plano de despoluição da Baía da Guanabara passa pela interceptação e tratamento do esgoto por meio de coletores de tempo seco, que evitarão o despejo direto na baía em períodos sem chuva. A expectativa é de que, até 2033, o tratamento de esgoto alcance 90% da população atendida pela concessionária, que opera em 27 municípios do estado.