Em grandes centros urbanos, os apartamentos compactos – hoje ofertados como studios e lofts – têm ganhado crescente protagonismo entre os lançamentos imobiliários. Esses imóveis, de metragem reduzida, se multiplicaram pelo país e atraem desde estudantes e jovens profissionais até investidores e aposentados que buscam praticidade, preços mais acessíveis e boa localização. O fato também decorre, segundo especialistas, do alto custo do metro quadrado construído e de terreno nas melhores localizações: ter mais metros quadrados, significa um valor de venda mais alto, e menos acessível.
“O mesmo cálculo também funciona do ponto de vista do construtor e do incorporador: se ele construir uma unidade com mais metros quadrados, salvo numa região de grande luxo e imensa procura, vai ter que vender o apartamento mais barato, pois o preço do metro quadrado de um imóvel médio – principalmente os novos – é inversamente proporcional ao seu tamanho“, explica Lucy Dobbin, superintendente da Sergio Castro Imóveis. Dobbin explica que a situação é menos evidente na comercialização dos imóveis usados, mas ainda assim afeta também – ainda que em menor escala – a revenda.
Em meio a isso, levantamento recente elaborado pelo Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio) apontou que, em 2023, a cidade registrou o lançamento de 1.667 studios em novos empreendimentos, o triplo do total de imóveis de 4 quartos, que somaram 538 unidades lançadas.
Paralelamente, em 2021 e 2022, o número de lançamentos de apartamentos compactos apresentou crescimento de 35%, enquanto o de imóveis de 4 quartos caiu quase 40%.
De acordo com a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), a velocidade das vendas também impressiona: em média, 80% das unidades compactas – de 30 a 50 metros quadrados – são comercializadas ainda na fase de lançamento, sendo os preferidos pelos investidores que desejam rentabilizar com locação. Especialistas citam que também são estes os imóveis favoritos dos que investem na locação por temporada, através dos aplicativos especializados, como Booking e Airbnb.
Em entrevista à imprensa, o presidente da Ademi-RJ, Marcos Saceanu, disse acreditar que a tendência é que continuem a surgir empreendimentos compactos na capital fluminense, por terem grande potencial de aluguel e atraírem um público diversificado, como estudantes, solteiros, idosos e turistas.
Melhor aproveitamento de espaço?
Com a popularização de apartamentos do tipo studio, cresce também a necessidade de soluções inteligentes para otimizar cada metro quadrado disponível. Segundo estudo da plataforma de e-commerce Nuvemshop, entre as principais tendências do mercado de decoração para 2025, estão os móveis multifuncionais e compactos.
Sofá retrátil, mesa dobrável, banco com baú e cama com compartimento interno para armazenamento são algumas das alternativas para unir conforto e funcionalidade em espaços pequenos.
Em projetos reduzidos, como os studios de menos de 30 metros quadrados, o uso estratégico dos ambientes pode fazer a diferença. Em seu canal no YouTube sobre arquitetura e decoração, a especialista Ana John exemplifica essa prática ao mostrar uma proposta para um imóvel com apenas 24m² de área útil.
No projeto, a integração dos espaços foi feita com um painel vazado que separa o quarto da sala, preservando a iluminação natural e a ventilação cruzada. Além disso, um segundo painel similar delimita a área da cozinha, garantindo a privacidade sem comprometer a sensação de amplitude, tendo em vista que eliminar barreiras entre os ambientes pode fazer o imóvel parecer maior.
Para maximizar o armazenamento, Ana apostou em um armário suspenso sobre a cama e em um guarda-roupa com portas de correr espelhadas, recurso que ajuda a ampliar visualmente o ambiente. De acordo com a arquiteta, a escolha por uma cama mais baixa, inspirada no estilo japonês, também contribuiu para um aspecto mais aconchegante, assim como as cores claras que predominaram os móveis e pinturas.
Preferência por compactos
Desde 2019, o novo Código de Obras permitiu a construção de unidades menores, algo que estava proibido no RJ desde a década de 1970, conforme explica o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon). Havia também exigências de vaga de garagem, que na maioria dos casos acabaram sendo retiradas. Com isso, novos projetos começaram a ser desenvolvidos, especialmente em bairros da Zona Sul carioca, onde a localização privilegiada favorece a procura por apartamentos menores.
O presidente do sindicato, Claudio Hermolin, também aponta mudanças na configuração familiar como um dos motivos pela preferência dos consumidores. Segundo ele, muitas pessoas não desejam casar ou ter filhos, a população de idosos aumentou, e a cidade se tornou um polo universitário.
”Houve, ainda, uma mudança de comportamento das pessoas. Hoje, quarto de empregada não é mais uma necessidade. Muitos querem um apartamento compacto num local onde a mobilidade seja fácil”, acrescenta Claudio.
A região do Centro do Rio, no esteio do Projeto Reviver Centro, vem ganhando um grande destaque na venda desta modalidade de imóveis. E as vendas têm ocorrido num piscar de olhos: lançamentos da CTV, da Cyrela e da Inti que tinham como alvo o comprador destes apartamentos compactos tiveram surpreendente sucesso, assim como ocorreu com o tradicional Edifício A Noite, na Praça Mauá, comercializado para um único investidor, o que assustou o mercado pela alta demanda a esta tipologia imobiliária. A venda rápida como um raio das unidades do Edifício Mesbla, na Rua do Passeio, deixou todos impressionados, e parece que virão mais lançamentos de imóveis compactos por aí.
“Compacto sim, Pombal não”
O DIÁRIO DO RIO foi em busca de opiniões de compradores deste tipo de unidade, e conseguiu entender a cabeça deles; todos parecem valorizar as decorações minimalistas, a proximidade com os meios de transporte, a vista, e são unânimes ao dizer: “Compacto sim, Pombal não“, diz a servidora Joana Coelho, que recentemente adquiriu uma unidade num empreendimento no Centro da Cidade. “A gente não quer um novo Balança-mas-Não-Cai“, decreta João Martins Couto, síndico profissional que vai se mudar do Lins para um apartamento no Centro do Rio. Estes compradores também valorizam as áreas comuns e o lazer dos novos lançamentos, mostrando sempre uma preocupação com a quantidade de vizinhos e com o design.
Todos demonstraram uma preocupação em comum: não querem morar num bloco único com 700, ou 800 apartamentos. “Quero qualidade de vida, e vizinhança tranqüila“, diz Couto, que já morou no Edifício Rajá, um ícone dos “já-vi-tudos” na Praia de Botafogo. “Não adianta ter uma piscina com três pessoas por metro quadrado”, dispara. A questão traz à tona projetos de imensos espigões de torre única e muitas centenas de studios – um dos quais já está em fase de aprovação na prefeitura: o novo “paredão” do Buraco do Lume, do Grupo Patrimar. Trata-se de uma mega construção de mais de 20 andares num imenso terreno de quase 2.800m2 que pode ser erguido colado no Terminal Garagem Menezes Côrtes, num terreno que se acreditava ser público, e que é alvo de alguma controvérsia no meio dos apaixonados pelo Centro e no meio imobiliário em geral. Segundo o projeto, o prédio terá nada menos que 720 apartamentos e diversas lojas comerciais, numa das mais nobres regiões do Centro, um mega paredão onde hoje existe uma área arborizada.